segunda-feira, 26 de abril de 2010

Como a modernidade apartou homem e natureza na metrópole paulistana


HUMANIDADES
| HISTÓRIA
Um progresso animal
Como a modernidade apartou homem e natureza na metrópole paulistana
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Um convívio incômodo entre a modernidade do bonde e a antiguidade do boi na capital
Segundo registros, foi em 1685, no Recife, que um mosquito deu uma picada num
incauto cidadão e, assim, teria ocorrido o primeiro caso de dengue no Brasil. Hoje,
mais de 300 anos depois, em pleno século XXI, um simples mosquito ainda
consegue render um país, sinal de que a modernidade brasileira não foi capaz,
como esperavam os crentes do progresso de fins do século XIX e início do século
XX, de “vencer” o “atraso” representado pelos “animais”. Mesmo numa metrópole
avançada como São Paulo. “Naquele período, os animais da cidade passaram por
um processo de ‘recolonização’, parte do processo de passagem de um padrão de
raízes coloniais para outro com elementos de modernidade, em que o homem
redefiniu suas atitudes e relações com os animais, colocando em oposição o
‘couro’, símbolo do animal, e o ‘aço’, o moderno”, analisa Nelson Aprobato Filho
no doutorado O couro e o aço: a “aventura” dos animais pelos “jardins” da
Pauliceia, defendido no Departamento de História da USP, orientado por Nicolau
Sevcenko, com apoio da FAPESP.

“Meu objetivo foi entender os impactos da modernidade sobre os animais da
cidade e demonstrar que a modernidade paulista aconteceu em suas dimensões
(reais, imaginárias ou simbólicas) graças e a partir dos animais e das atitudes,
usos e sensibilidades que o homem passou a adotar sobre eles”, continua. Segundo
o pesquisador, com a revolução científico-tecnológica, os animais passaram a ter
uma importância inesperada, já que, no processo de emergência das grandes
metrópoles, eram para os homens a parte constitutiva de uma “cultura de
referências estáveis e contínuas” que, nota o pesquisador, foram dilapidadas com o progresso. “Foi, logo, sintomática a escolha física e simbólica de animais como
elementos singulares de experimentação, contraponto e confronto para a
justificação ou detração (real ou imaginária) da modernidade paulistana.”
Exemplos não faltam, desde o “Ou São Paulo acaba com a saúva, ou a saúva
acaba com  São Paulo” até a associação, feita por Monteiro Lobato, entre o
quadro social nacional e o carro de boi, visto como símbolo do atraso, da
lentidão, da rusticidade “antiga” e perniciosa. Não sem razão, uma estatística
comparativa, feita em São Paulo, da quantidade de bovinos, equinos, asininos
e muares revela que, se em 1905 eles eram 21.606, em 1920 passam para 38.885
e em 1940 chegam a apenas 5.375. No espaço de duas décadas, mais de 35 mil
animais desapareceram da paisagem da cidade grande e, mais importante,
sumiram da consciência dos cidadãos.

Esse processo de “desapreço” inicia-se já em meados do século XIX. “Basta ver as caricaturas de Ângelo Agostini, em Cabrião ou no Diabo Coxo para perceber como,
na época, os animais, cada vez mais, aparecem associados ao atraso, à pasmaceira,
à imundice. Porém, na realidade sociocultural da época, as maleabilidades do couro
eram ainda mais resistentes do que as consistências do aço. Paulatinamente esse
quadro foi se invertendo”, explica o autor. Então, não era difícil ver 300 carros de
boi (que só irão desaparecer entre os anos 1910 e 1920) circulando entre São Paulo
e Santo Amaro. A cidade também era constantemente atravessada por tropas,
compostas por 40 a 80 animais. “Se ocorresse, por acaso, o encontro de quatro
tropas numa rua paulistana era possível observar-se o trânsito provocado por 320
muares e centenas de insetos e parasitas que acompanhavam as tropas. Delas aos
carros de boi, das carroças às montarias, das boiadas aos urubus, das aves aos
peixes etc., os animais viviam, invadiam ruas, largos e praças. Era impossível não
ter uma convivência intensa com eles”, conta. O contraponto dessas maneiras do
viver cotidiano, em que os animais eram, de forma até certo ponto equilibrada,
agentes e pacientes, manifestou-se nos projetos e mecanismos criados por
elementos ligados ao poder público, às entidades científicas e tecnológicas que
passaram a atuar em São Paulo a partir de fins do século XIX e início do XX.

“Pelo acompanhamento das várias leis e projetos que tinham como alvo os animais percebe-se como o poder público tratou a questão: quais os lugares, funções e
papéis que lhes caberiam na nova cidade; quais os animais ‘eleitos’ para
permanecer no meio urbano; quais confrontos foram estabelecidos entre eles e o
progresso.” O pesquisador lembra que, ao mesmo tempo, surgia a tendência de
considerar o engenheiro como o profissional mais capacitado para gerir os destinos
de uma cidade. “Eles passam a olhar com certa cobiça as administrações
municipais que subordinavam seus habitantes e animais aos mecanismos da
engenharia moderna. Entre o couro e o aço ia brotando uma nova e excludente mentalidade tecnológica. Na trilha das mulas, que para eles eram sinônimo de
ruralismo e passado colonial, os engenheiros paulistas tentavam alicerçar seus
ideais de civilização numa ‘cruzada’ pela modernidade”, observa. Até “vítimas”
inesperadas, como os cães, viram alvo de campanhas de repressão por meio de
leis regulatórias que incluíam gastos da prefeitura com “bolas de alimento com
veneno dentro”, dado aos caninos soltos na rua, bem como taxas e obrigatoriedade
do uso de coleiras (“os cães devem estar açaimados e coleira numerada que indique
ter pago o imposto municipal”, dizia a Lei nº 68 do Código de Posturas de 1886).
Havia discussões acaloradas sobre o que era ou não um “cão de raça” e, portanto,
sujeito a privilégios. “Para construir uma cidade moderna era preciso criar
mecanismos para corrigir os que denotassem tendência à ‘vagabundagem’, de
homens ou cães.”


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Visões do descompasso animal em São Paulo, na visão de Agostini

Formigueiro - Não apenas os vira-latas ganharam denotação metafísica. “A
guerra contra a saúva mobilizou a cidade em todos os níveis, seja na destruição
física dos formigueiros, seja pela simbologia. Lobato foi um dos escritores paulistas
que mais utilizaram o inseto como símbolo do arcaísmo e ruralismo,
acompanhando-o, em suas reflexões, por décadas. Em suas teses cáusticas,
escritas em 1908, por exemplo, as formigas representavam a antítese do progresso,
a demonstração cabal do atraso em que estavam mergulhadas cidades e
populações pobres.” Vinte anos mais tarde, Mário de Andrade falaria delas, num
registro mais irônico, em Macunaíma. “Inda tanto nos sobra, por este grandioso
país, de doenças e insetos por cuidar. Estamos corroídos pelo morbo e pelos
miriápodes. Em breve seremos uma colônia da Inglaterra ou da América do Norte.
Por isso e para lembrança dos paulistas, a única gente útil do país, propomos um
dístico: ‘Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são’.” O historiador
Nicolau Sevcenko, em seu artigo “O Brasil e as saúvas”, faz um curiosa síntese
do uso metafórico do “inseto que incomodava”, pelas várias elites dirigentes, em
diferentes épocas históricas, sempre que se tentava “eliminar saúvas”, fossem
quem elas fossem: a elite agrária do século XX e o Jeca Tatu; Vargas e a
campanha contra o malandro; os militares e a repressão.

Os animais, porém, podiam ser um hábito arraigado de difícil contenção. “Ao
observar as várias leis, por exemplo, vê-se a ineficácia das medidas
governamentais para tentar coibir o tráfico dos carros de boi pelo centro da
capital. Percebe-se, em especial após 1900, a insistência do poder público por
afastar esses elementos das ‘áreas nobres’ e a resistência dos carreiros em
abandonar uma prática de deslocamento que tinha tudo a ver com formas
populares de sobrevivência. Essas figuras e seus animais iam se tornando
visões indesejáveis e dissonantes para a nova metrópole.” Ao mesmo tempo,
o couro e o aço, em face da tecnologia incipiente, eram obrigados a conviver,
como no caso dos bondes puxados a tração animal. “Utilizados até então em
tropas de mulas ou carroças, houve um estranhamento tanto da população,
desacostumada desse gênero de condução, como dos animais, uma vez que o
peso dos bondes era bem maior do que o que estavam acostumados.” Ou, nas
palavras de uma testemunha ocular: “Os grupos pulavam e desciam dos
bondinhos e se postavam à frente dos pobre muares, que, sob o ardor dos chicotes,
faziam o impossível para arrastar os carros que se achavam com seu peso além
da conta”. Havia quem reclamasse do novo serviço por se ver, subitamente,
morando ao lado das cocheiras. “Não existirá meio de acabar com tão incômoda assembleia?”, reclamava às autoridades um morador do Rosário.

O progresso logo traria o sossego ao incomodado. A partir de 1901, o monopólio
dos transportes urbanos passa a ser controlado pela companhia canadense Light & Power, que iniciou a retirada dos bondes tracionados por animais das ruas
centrais de São Paulo. O último deles foi retirado em 1910. Do entusiasmo inicial
pelo novo transporte, a cidade agora se envergonhava de ter que andar com
bonde movido a muares. “Houve a Revolução de Santana, organizada por
moradores do bairro que, descontentes por pertencer a um dos únicos bairros da
cidade que ainda eram servidos por bondes puxados por animais, resolveram
usar a força para intimidar o poder público e a Light & Power. Soltaram
os burros e colocaram fogo nos bondes”, conta Aprobato. Ao mesmo tempo,
os bondes elétricos mexeram não apenas com o ego dos paulistas. “Para uma
população acostumada a deslocamentos que tinham como parâmetro a
velocidade desenvolvida por bois, mulas e cavalos, a adaptação integral ao
novo veículo foi pautada por receios e medos constantes.” O zoólogo Afonso
Schmidt descreveu como os “espíritos conservadores, habituados às doçuras
dos bondinhos, puxados por uma parelha de líricos muares, não viam com bons
olhos a sua substituição por amplos, limpos e rápidos veículos movimentados a
força elétrica. Manhosamente alegaram um sagrado horror aos desastres”. Foi
necessário que as empresas contratassem os “técnicos em acidentes”, pessoas que
se deixavam atropelar pelo bonde a uma velocidade de oito pontos para
demonstrar a eficácia dos limpa-trilhos.


Ritmos - “Os bondes elétricos, mais profundamente que os anteriores, de tração
animal, por suas singularidades tecnológicas e impacto perceptivo-sensorial, foram
um dos principais veículos da transformação comportamental urbana e
sociocultural ocorrida em São Paulo no início do século XX”, observa o
pesquisador. Eles, continua, “despertavam os moradores da cidade para novos
ritmos que, dali em diante, eram obrigados acompanhar”. Mas não era o bastante.
José Agudo, em Gente rica – Scenas da vida paulistana, revela os novos desejos 
por meio do personagem do Dr. Zezinho, “apurado no vestir e frequentador de 
cassinos e pensões que não têm hora de fechar”. Para ele, era um inferno chegar 
em casa “depois das duas da madrugada e não dormir, porque principiou o 
barulho de bondes e carroças”. Afinal, os automóveis estavam chegando e em 
breve “qualquer pé-rapado há de ter o seu”. “Também deixam atrás de si um 
fétido horrível de gasolina, mas é chic andar-se de automóvel. Oh! Um 40 HP 
é soberbo. Depois, quem anda dentro dele não fica sujo de poeira nem sente o 
mau cheiro da rabeira. Os que foram à pata que se arranjem, ora essa é muito 
boa!”, filosofava o playboy paulistano, para quem a prefeitura deveria “calçar as 
ruas de borracha”.

Dr. Zezinho tinha ainda outras filosofias. “Os bondes vieram tornar mais suave o
trabalho dos burros. Já se pode ser burro em São Paulo, pois até há bebedouros
para eles nas praças públicas. Ali mesmo no Largo São Francisco há um. Que
sábia providência. Quanto burro antes não sofria sede. Se os burros falassem, é
possível que um deles que por aqui viesse de passeio, parodiando a celebrina
Sarah Bernhardt, exclamasse: ‘São Paulo é o paraíso dos burros!’.”  Couro e aço
iniciam um estranhamento cujas consequências finais ainda estamos sentindo.

sábado, 10 de abril de 2010

O Programa de Investigação da Ecologia Histórica

Balée, W. 2006. The Research Program of Historical Ecology. Annual Review of Anthropology 35: 75-98.


Palavras-chave: Postulados do núcleo duro, transformação da paisagem, contingência histórica,perturbação mediada por humanos, variedades de espécies e invasões biológicas.

Introdução

Ecologia Histórica é um novo programa de pesquisa interdisciplinar preocupado com a compreensão das dimensões temporais e espaciais nas relações das sociedades locais e o meio-ambiente e os efeitos globais acumulados desse relacionamento. É um programa de investigação preocupado com as interações através do tempo entre as sociedades humanas e o meio ambiente e as conseqüências destas interações para a compreensão da formação contemporânea e culturas do passado e as paisagens.

Ecólogos Históricos tem uma visão de longo prazo de História e Paisagem e portanto tendem a ser menos variantes com programas anteriores de investigação da antropologia ambiental.

Ecologia Histórica exemplifica uma revisão dos primeiros conceitos reinante na cultura ecológica, evolucionista, cultura materialista e da teoria dos ecossistemas. É uma interdisciplinaridade, são meios de lidar com aplicações de ambas as ciências, social e a ciência da vida. A mais importante é a restauração ecológica, um sinônimo aplicado da ecologia histórica.

Um Segundo Mundo

Na ecologia histórica a paisagem é um lugar de interação com uma dimensão temporal que é histórica e cultural, como é evolutiva por si mesma e não mais sobre os eventos passados foram inscritos, às vezes,   sutilmente sobre a terra. Ecólogo Histórico registra simples forrageadores e horticultores de coivara como agentes históricos que manifestam passados culturais que desafiam a colocação em um estágio de evolução política. A Ecologia Histórica contestou a noção primitiva e florestas virgens, mas através de diferentes vertentes do pensamento convergente, em análise interdisciplinar em antropologia, geografia, história e ecologia. Essa noção de paisagem na sua versão mais recente tem origem na geografia cultural e histórica. Geógrafos muito cedo derivam a idéia de uma indissociabilidade dos seres humanos e o meio ambiente no contexto da paisagem.

O pensamento de que os humanos estão em toda parte como agentes históricos (para além de sua consciência de ser assim) de mudança na paisagem, tornando-o histórico, quer pela agricultura ou alguma interferência reconhecidamente em outros seres humanos, data da antiguidade clássica. Heródoto propôs que eventos históricos desdobram-se em um lugar físico e que as características do lugar, por sua vez, a mudança através do tempo, ou seja, a cultura e o ambiente estão interligados em um sentido e mudam juntos através dos tempos. Cícero escreveu sobre como humanos, através da domesticação, adubação, irrigação, influenciou a criação de uma segunda natureza.

Em Ecologia Histórica, o conceito de transformação da paisagem, resultando no clamado, homem floresta, foi derivado inicialmente de povos da agricultura agro-florestais. Os mais recentes trabalhos sugerem forragi e sociedades que caminham, também influenciaram a composição da floresta, através de atividades como o plantio de propágulos.

Outros Ecólogos, outras histórias

A distinção entre a ecologia histórica e outros pontos de vista ecológicos tem a ver com o antropocentrismo de uma forma ou de outra. Ecologia histórica difere da ecologia cultural, principalmente, o critério da ação humana, bem como na adaptação ao ambiente.

Ecologia Cultural defende que o ambiente não é transformável. Pelo contrário, os seres humanos é que devem adaptar as suas culturas, tecnologias e as suas populações a ela. Ecologia cultural envolve uma matriz de três concepções do tempo humano, emprestados dos (Annales), são as seguintes: (a) evento, como prazo curto, o fenômeno episódico, (b) ciclo, envolvendo repetitivos padrões estatísticos, mais de uma década, um quarto de século, (c) longa duração, modelos empíricos de história e arqueologia que ocorrem ao longo dos séculos.

A História Ambiental é um assunto bem definido interdisciplinarmente, mas não é uma perspectiva que articula postulado duro, tais como ecologia histórica faz. Neste sentido a ecologia histórica não é uma parte da história ambiental, nem é paralela a ela como uma forma separada do pensamento. História ambiental abrange o seguinte: a história comparada das atividades humanas, amplamente separados ambientes estruturalmente semelhantes, mas com condições politicamente semelhantes e história vista como resultado de comportamentos convergentes, a histórias dos movimentos verdes e a relação destas com a política governamental, a história das ciências ambientais e florestas e da historiografia de escrever a historia ambiental.

Ecologia histórica é diferente, e fundamentalmente, está em desacordo com a teoria dos sistemas ecológicos por uma lógica semelhante do comportamento sensitivo, os seres sapientes com capacidades culturais e não apenas para transformar espécies de ambientes ricos em estéreis de baixa diversidade e homogeneidade da paisagem, que claramente os homens podem fazer e tem feito.

Contingência Histórica e sucessão ecológica.

Ecossistemas sofrem históricas alterações em suas características fundamentais semelhantes a suítes ou guildas de espécie de plantas e animais ao longo do tempo. Há ambientes como os continentais que são mais estáveis e das ilhas que possuem um ecossistema instável propenso a invasões e extinções. Invasão de espécie é um tipo de distúrbio tradicional, de fato, podem ser bióticos ou abióticos. Ele também pode ser cultural e histórico. Quando eles são naturais e comprovadamente não relacionados ao aquecimento global, para a mal concebida construção de barragens e diques, e outros erros humanos.

Ecologia Histórica não trata da síntese do homem, mas centra-se sobre o resultado de sua interação cíclica. Ecólogos Históricos reconhecem que cada passagem deve ser entendida em termos de suas influências, específicas culturas e históricas sucessões sem preconceito em direção a natureza humana. Há dois tipos básicos de sucessão: primária e secundária. Sucessão primária refere-se à colonização inicial de um substrato que não teve nenhuma vida antes, como a sucessão de organismos recém-formada em atóis vulcânicos ou emergentes nas ilhas deltaicos nas barras de ponta de rios sinuosos. Sucessão secundária refere-se à substituição de organismos por outros (como o K selecionado por R microorganismos selecionados), sobre um substrato que tem sido perturbado, como é o caso das bem drenadas terras florestais quando sujeitas a furacões e tornados.

Distúrbios intermediários não conota a intensificação, industrialização, globalização que pode resultar em diminuição da diversidade de espécies por unidade de área.

Há três tipos de diversidades de espécies: diversidade alfa,que é o número de espécies em um local restrito com parâmetros ambientais constantes (tais como drenagem e tipo de solo: diversidade beta, que é a diversidade ao longo de um gradiente ambiental, como a inclinação ou precipitação envolvendo a distância entre as parcelas adjacentes anteriormente apontadas pela diversidade alfa; e a diversidade gama, que é a diversidade de uma região inteira como a Bacia Amazônica.

Impactos humanos diretos podem ser qualitativamente atribuído a uma escala sensível ao tempo e lugar pelo indicativo de perturbação. Ex: forrageamento na pré-história do Ártico, puna nos Andes e a agricultura industrial avançada e globalizada, onde as assinaturas pré-históricas são apagadas como resultado da substituição completa dos grupos de espécies e a intensidade de uso da terra influenciado pela demanda mundial sobre o trabalho agrícola e de commodities.

Transformações primárias e secundárias na paisagem Amazônica

A transformação da paisagem primária nas Bacias Amazônicas Central e Baixa envolveu a construção de túmulos, bem como alterações nos cursos dos rios para facilitar o transporte, com aparentemente insignificantes efeitos sobre a diversidade de espécies. Os efeitos sobre a diversidade alfa e beta são desconhecidos da manipulação pré-histórica do solo e drenagem no Alto Xingu (Baixo Amazonas) por cerca de 1000 dC, bem como em outras áreas da Amazônia de terra negra (solos modificados pelo homem com adição de matéria orgânica).

O habitat dos índios Sirionó da Amazônia boliviana inclui uma paisagem heterogênea de florestas bem drenadas em montes relictuais, florestas ligeiramente inundadas na base de tais montes (chamadas de floresta pampa), e savanas sazonalmente inundadas e mal drenadas, que correspondem aproximadamente dois terços da paisagem. A transformação da paisagem primária que acumulou no Complexo Ibibate (os montes (túmulos) e floresta do pampa adjacente) seria, em termos ecológicos, uma sucessão primária, embora esse termo mais comumente exclui antropogênese da paisagem. A transformação envolveu uma substituição de espécies, tendo uma diversidade alfa de várias ordens de grandeza superior à savana.

Ecologia florestal, portanto, nesses casos de sucessão primária sem causas naturais, é na verdade um artefato da cultura e da sociedade. Talvez, para representar melhor e distinguir o impacto das perturbações mediadas pelo homem daqueles ambientes, dado que é escalar e temporal, deve-se, portanto, referir-se a transformação da paisagem primária e secundária quando se discute a mudança biótica e ambiental em uma escala humana de tempo.

Espécies invasoras e paisagens históricas

As invasões biológicas, por vezes, referem-se apenas a espécies invasoras que substituem outras de espécies estruturalmente semelhantes no novo ambiente, mas o termo aqui se refere a ambas as espécies invasoras no sentido convencional e de doenças invasoras incluindo bactérias, protozoários, vírus e infecções príon, que assumem características de epidemia em relação ao anteriormente exposta flora e fauna nativas, incluindo os seres humanos.

A integração da ecologia da paisagem e da epidemiologia é análogo ao reconhecimento em ecologia histórica que a atividade humana tem sido associada com uma variedade de novos agentes patogênicos e sua distribuição e que organizações políticas das sociedades humanas espelham sua suscetibilidade a doenças epidêmicas, bem como seu potencial de gerar invasões biológicas em ambientes novos. As invasões biológicas que envolvem a transferência e disseminação de espécies invasoras de um ponto para outro têm sido denominadas de sucessão em ação. As espécies invasoras são espécies introduzidas de plantas e animais que se tornaram espécies dominantes da flora e fauna. O sucesso das espécies invasoras, como ervas daninhas, depende de fatores bióticos e históricos, isoladamente ou em combinação, específicos em cada caso. As espécies invasoras podem não ter inimigos naturais no local de entrada (como acontece com as árvores da borracha brasileira, na Malásia), uma visão inicialmente proposta por Darwin. Propágulos de muitas espécies invasoras estão localizados perto de rotas de navegação em seus pontos de origem, em seus lugares iniciais de dispersão, e, portanto, são facilmente transportados muitas vezes como lastro. As espécies invasoras são freqüentemente transportados para novos destinos acidentalmente como no lastro de navios, por exemplo, com as marés vermelhas (Dino flagelados tóxico). As invasões biológicas desde o surgimento dos humanos modernos costumam ter ocorrido com a ação histórica, estes são chamados invasões mediadas por humanos. As invasões biológicas têm causado reduções e extirpações de numerosas espécies, inclusive através de mecanismos de exclusão competitiva direta. No caso de patógenos introduzidos, seu sucesso é apenas mitigado pela medida em que uma população de acolhimento sobrevive e pode ser um reservatório para transmissão endêmica futura.

A barreira da espécie entre os humanos e outros animais é efetivamente discriminada por doenças que são antropozoonóticas (o humano vetor, infectando outros animais), como a tuberculose, sarampo e vírus da herpes humano, e pelo habitat [um exemplo extremo de fragmentação do habitat, que em um sentido geral, nem sempre causa redução na diversidade de espécies ]sendo responsável por mudanças nas relações entre patógenos e hospedeiros, como acontece com a doença de desperdício crônica de cervos, veados de cauda branca. Alguns agentes desenvolvidos em animais domésticos saltaram barreiras de espécies diversas vezes. Tuberculose bovina (de gado doméstico) infectou o bisão selvagem no Canadá, veados, em Michigan, búfalos, leões, leopardos, chitas, kudus e babuínos na África do Sul. Gripe aviária (H5N1 de tipo A do vírus da gripe), que tem potencial para se tornar uma pandemia, é notável pela alta morbidade, bem como ter o potencial de vários vetores: aves selvagens, gatos domésticos, grandes gatos, galinhas, porcos e seres humanos, todos humanos que têm distribuições e interações mediadas por humanos. Scrapie (doença de príon) em ovinos saltou a barreira das espécies e se tornou a doença da vaca louca no gado, uma linhagem que parece ter cruzado a barreira das espécies para os humanos como variante de Creutzfeldt-Jakob. A Ecologia da Doença na medida em que liga os seres humanos e outra biota, afetando a distribuição na paisagem de ambos, torna-se mais plenamente compreensível dentro da temporalidade da ecologia histórica.

Discussão e Conclusões

Com base na noção de que as espécies nativas são mais desejáveis do que as exóticas, não só para a estética, mas por razões relacionadas com a conservaçãoda diversidade biótica, os esforços de restauração da ecologia tendem a se concentrar na eliminação e erradicação de espécies invasoras. Estes esforços têm tido resultados mistos. Restauração ecológica (Ecologia Historica Aplicada), essencialmente, requer o conhecimento das condições de referência de um estado passado da paisagem para atingir autenticidade.

A Ecologia Histórica pode fornecer condições de referência necessária para a autenticidade da reconstrução da paisagem. As fontes variam e são derivados da pesquisa em paleoecologia, etno-história, história e arqueologia da etnografia e etnobiologia; do trabalho de inventário biológico e da investigação sobre os símbolos e a linguagem.

A Ecologia Histórica é interdisciplinar, e em uma de suas disciplinas, a antropologia, é claramente inter-sub-disciplinar. Ecologia Histórico Aplicada pode tornar-se o compromisso holístico do conhecimento a partir de diversas disciplinas para o benefício das sociedades humanas e das biota e paisagens selecionados. É derivado de diversas áreas com o objetivo de determinar as condições de referência das paisagens do passado com o maior grau de autenticidade para o período escolhido para a restauração.

A persistência do problema, em termos de aplicações da ecologia histórica, diz respeito a questões políticas como a que será privilegiada na determinação da profundidade de tempo desejado e do estado associado do conhecimento histórico sobre as paisagens a serem restauradas.

Mário Nascimento
Graduando do curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do ABC (UFABC)